A VIGILÂNCIA É PARA SEMPRE!!!
Você está acima do peso e acha um suplício levar qualquer dieta adiante? Ou, dieta feita e quilinhos perdidos, tem de lutar para não comer e engordar tudo de novo? Culpa do seu cérebro, explica o neurologista americano Barry Levin, professor da New Jersey Medical School, dos Estados Unidos. Há mais de vinte anos estudando a relação entre cérebro e obesidade, ele constata a dureza da tarefa: "Não importa quanto a pessoa pese ou que tipo de redução alimentar ela resolva seguir; quem faz dieta manda ao cérebro todos os indícios de que está morrendo de inanição". Palavra de ex-gordo em constante vigilância, como ele mesmo informa nesta entrevista.
Como funciona o mecanismo de saciedade?
Quando se come uma refeição e os nutrientes começam a entrar no aparelho gastrointestinal, há a liberação de diferentes peptídeos, que são basicamente pedaços de proteína. Eles agem em terminações nervosas do intestino, que mandam uma mensagem de volta para o cérebro avisando quando está na hora de parar de comer. Não têm um efeito de longo prazo – agem naquele momento, por um mecanismo de feedback. A ação que esses peptídeos terão na definição da saciedade é, de certa forma, regulada pela leptina, um dos hormônios que o tecido gorduroso produz. Quanto mais gordura se acumula no organismo, mais leptina; quanto mais leptina, mais efeito esses peptídeos terão ao mandar a mensagem da saciedade.
Quando se come uma refeição e os nutrientes começam a entrar no aparelho gastrointestinal, há a liberação de diferentes peptídeos, que são basicamente pedaços de proteína. Eles agem em terminações nervosas do intestino, que mandam uma mensagem de volta para o cérebro avisando quando está na hora de parar de comer. Não têm um efeito de longo prazo – agem naquele momento, por um mecanismo de feedback. A ação que esses peptídeos terão na definição da saciedade é, de certa forma, regulada pela leptina, um dos hormônios que o tecido gorduroso produz. Quanto mais gordura se acumula no organismo, mais leptina; quanto mais leptina, mais efeito esses peptídeos terão ao mandar a mensagem da saciedade.
O cérebro do obeso reage de modo diferente?
O obeso tem muito tecido gorduroso, logo, muita leptina. Só que chega um ponto em que o seu cérebro para de prestar tanta atenção à leptina. É como se ficasse menos sensível a ela. E não só a ela: vários sinais normais que mandam reduzir o ritmo ou parar de comer são ignorados; não totalmente, mas em grande parte. É importante observar que em geral uma pessoa obesa tem peso corporal equilibrado, embora num nível mais alto do que as outras pessoas. Seu sistema está em equilíbrio, mas não é o equilíbrio que a pessoa e seu médico gostariam de ver.
O obeso tem muito tecido gorduroso, logo, muita leptina. Só que chega um ponto em que o seu cérebro para de prestar tanta atenção à leptina. É como se ficasse menos sensível a ela. E não só a ela: vários sinais normais que mandam reduzir o ritmo ou parar de comer são ignorados; não totalmente, mas em grande parte. É importante observar que em geral uma pessoa obesa tem peso corporal equilibrado, embora num nível mais alto do que as outras pessoas. Seu sistema está em equilíbrio, mas não é o equilíbrio que a pessoa e seu médico gostariam de ver.
Se o organismo é bem regulado e envia sinais quando comemos o suficiente, por que engordamos?
Quando se come além da conta e muito rápido, sinais poderosos indicam que a pessoa está satisfeita. Mas quem come um pouquinho a mais todo dia – e é assim que a maioria das pessoas engorda – engana o radar e vai acumular uns 2 quilos por ano. E o pouquinho sempre vai aumentando. É sempre a eterna questão do equilíbrio entre a ingestão e o gasto de calorias. Quem come além do gasto engorda. Não há mágica. Para perder peso, é a mesma coisa. Só que, quando se começa a perder calorias, o corpo fica muito mais eficiente no armazenamento delas. Foi isso que nos permitiu sobreviver a grandes períodos de escassez de alimentos. Há quem não concorde com isso, mas o organismo humano age contra a perda de peso.
Quando se come além da conta e muito rápido, sinais poderosos indicam que a pessoa está satisfeita. Mas quem come um pouquinho a mais todo dia – e é assim que a maioria das pessoas engorda – engana o radar e vai acumular uns 2 quilos por ano. E o pouquinho sempre vai aumentando. É sempre a eterna questão do equilíbrio entre a ingestão e o gasto de calorias. Quem come além do gasto engorda. Não há mágica. Para perder peso, é a mesma coisa. Só que, quando se começa a perder calorias, o corpo fica muito mais eficiente no armazenamento delas. Foi isso que nos permitiu sobreviver a grandes períodos de escassez de alimentos. Há quem não concorde com isso, mas o organismo humano age contra a perda de peso.
Mesmo tendo comida em abundância?
Não importa. O organismo continua funcionando do mesmo jeito. Muitos obesos até chegam a perder peso, mas recuperam porque não conseguem ficar sem os quilos a mais. Num regime de restrição de calorias, 90% das pessoas sentem fome o tempo todo.
Não importa. O organismo continua funcionando do mesmo jeito. Muitos obesos até chegam a perder peso, mas recuperam porque não conseguem ficar sem os quilos a mais. Num regime de restrição de calorias, 90% das pessoas sentem fome o tempo todo.
Então perder peso ou não independe da força de vontade?
Vamos supor que eu lhe dê um medicamento mágico para estimular seu apetite e depois coloque um monte de comida na sua frente. Quanto você vai resistir depende, de alguma maneira, da sua força de vontade. Mas outra força incrível, vinda do medicamento, o impele a comer. Você pode resistir por algum tempo, mas acabará desistindo. É exatamente isso que acontece com quem perde peso. Pode-se falar quanto quiser sobre força de vontade, mas, diante da força biológica poderosa que foi construída dentro de nós, apenas 10% das pessoas não recuperam os quilos que perderam.
Os obesos têm uma força interior que os obriga a comer?
Não quando estão obesos. Nesse momento, eles estão em equilíbrio. Mas basta fazerem uma dieta de restrição calórica para o desequilíbrio se instaurar. Isso não acontece só com obesos, aliás: ao diminuir a quantidade de energia consumida, qualquer pessoa vai reagir como se estivesse sendo forçada a morrer de fome.
Não quando estão obesos. Nesse momento, eles estão em equilíbrio. Mas basta fazerem uma dieta de restrição calórica para o desequilíbrio se instaurar. Isso não acontece só com obesos, aliás: ao diminuir a quantidade de energia consumida, qualquer pessoa vai reagir como se estivesse sendo forçada a morrer de fome.
Isso significa que a apregoada reeducação alimentar não é capaz de fazer a pessoa perder peso para sempre?
Não é. Quem segue esses programas intensivos de dieta regulada e bastante exercício sem dúvida terá um resultado melhor do que com a maioria das outras dietas. Mas o fato é que mesmo assim o índice de fracasso é muito alto.
Não é. Quem segue esses programas intensivos de dieta regulada e bastante exercício sem dúvida terá um resultado melhor do que com a maioria das outras dietas. Mas o fato é que mesmo assim o índice de fracasso é muito alto.
Então não existe esperança para quem precisa perder peso?
Até há: que se encontre um remédio emagrecedor eficaz e com menos efeitos colaterais do que os existentes. Esse é o maior desafio. Outra coisa que funciona, embora seja muito drástica, é a cirurgia de redução do estômago.
Até há: que se encontre um remédio emagrecedor eficaz e com menos efeitos colaterais do que os existentes. Esse é o maior desafio. Outra coisa que funciona, embora seja muito drástica, é a cirurgia de redução do estômago.
Essa cirurgia tem algum efeito no cérebro?
Acreditamos que sim, mas não sabemos exatamente qual. Seja o que for, é bem significativo. Algum efeito, sem dúvida, é local, porque a cirurgia diminui drasticamente o volume do estômago e o intestino é religado de forma que a comida não percorra mais o mesmo caminho. Mas não entendemos direito o que acontece ali. Acho que teremos uma resposta nos próximos anos. E, quando tivermos, isso terá um efeito importante na pesquisa de novos medicamentos e tratamentos.
Acreditamos que sim, mas não sabemos exatamente qual. Seja o que for, é bem significativo. Algum efeito, sem dúvida, é local, porque a cirurgia diminui drasticamente o volume do estômago e o intestino é religado de forma que a comida não percorra mais o mesmo caminho. Mas não entendemos direito o que acontece ali. Acho que teremos uma resposta nos próximos anos. E, quando tivermos, isso terá um efeito importante na pesquisa de novos medicamentos e tratamentos.
Como o senhor avalia os remédios para emagrecer?
Existem duas classes de medicamentos. Os que trabalham na periferia, ativando nervos que se ligam ao cérebro, mas sem entrar nele; e os que penetram no cérebro. Podendo escolher, opte sempre por um remédio que não entre no cérebro.
Existem duas classes de medicamentos. Os que trabalham na periferia, ativando nervos que se ligam ao cérebro, mas sem entrar nele; e os que penetram no cérebro. Podendo escolher, opte sempre por um remédio que não entre no cérebro.
Por quê?
O cérebro é muito complicado. O princípio lógico desses medicamentos é o seguinte: se existe uma área que manda comer ao ter fome, bloqueie essa área; se existe uma área que informa que a pessoa não está com fome, estimule essa área. O problema é que os receptores dessas drogas estão em várias áreas do cérebro, e a falta de seletividade é o maior problema. O Acomplia, por exemplo, que foi tirado de circulação na Europa (e no Brasil) e nem chegou a ser aprovado nos Estados Unidos, funcionava muito bem para diminuir o apetite, mas também agia em uma área do cérebro ligada a problemas como depressão e ansiedade. Neurocientistas como eu já sabiam que seus efeitos colaterais seriam um obstáculo.
O cérebro é muito complicado. O princípio lógico desses medicamentos é o seguinte: se existe uma área que manda comer ao ter fome, bloqueie essa área; se existe uma área que informa que a pessoa não está com fome, estimule essa área. O problema é que os receptores dessas drogas estão em várias áreas do cérebro, e a falta de seletividade é o maior problema. O Acomplia, por exemplo, que foi tirado de circulação na Europa (e no Brasil) e nem chegou a ser aprovado nos Estados Unidos, funcionava muito bem para diminuir o apetite, mas também agia em uma área do cérebro ligada a problemas como depressão e ansiedade. Neurocientistas como eu já sabiam que seus efeitos colaterais seriam um obstáculo.
Qual é a possibilidade de desenvolver um medicamento realmente efetivo e seguro para perda de peso?
Presto consultoria à indústria farmacêutica e confesso que não conheço nenhuma boa ideia nesse sentido. Muitas empresas encerraram ou desaceleraram suas pesquisas, depois de gastar bilhões, sem conseguir nenhum resultado concreto. Tenho esperança, é claro, mas por enquanto não vejo progresso algum. Os candidatos mais promissores não deram certo.
Presto consultoria à indústria farmacêutica e confesso que não conheço nenhuma boa ideia nesse sentido. Muitas empresas encerraram ou desaceleraram suas pesquisas, depois de gastar bilhões, sem conseguir nenhum resultado concreto. Tenho esperança, é claro, mas por enquanto não vejo progresso algum. Os candidatos mais promissores não deram certo.
O senhor já fez alguma dieta?
Estou sempre de dieta. Já fui bem gordo. Consegui perder o excesso, mas posso dizer que durante dez anos senti fome o tempo todo. Uso a parte intelectual do meu cérebro para controlar o consumo de comida, porque não posso confiar na parte metabólica para me regular. Faço muito exercício e tenho conseguido manter o peso, mas estou sempre me vigiando. Conto calorias o tempo todo e me peso diariamente.
Estou sempre de dieta. Já fui bem gordo. Consegui perder o excesso, mas posso dizer que durante dez anos senti fome o tempo todo. Uso a parte intelectual do meu cérebro para controlar o consumo de comida, porque não posso confiar na parte metabólica para me regular. Faço muito exercício e tenho conseguido manter o peso, mas estou sempre me vigiando. Conto calorias o tempo todo e me peso diariamente.